Disciplina é auto-cuidado

Teve uma época em que eu queria tatuar a palavra disciplina em japonês. Acabei não encontrando isso, ou encontrando um símbolo mega complicado que não teria como virar uma tatuagem. Sempre me senti indisciplinada. Mas hoje, depois de um refluxo monstro de madrugada, eu entendi melhor o que eu sentia.

Eu não sou indisciplinada. Eu cumpro todos os meus horários com clientes ou com o que eu marco. Se uma amiga diz que vamos jantar na sexta, revejo a agenda e chego lá no horário, ou bem próximo disso. Eu mantenho a casa o mais arrumada possível e tento manter as finanças em ordem. Meu problema de indisciplina é outro.

Meu problema é quando isso chega em “cuidar de mim”. Quando é o meu banho, o meu horário de dormir, a minha academia. Parece que todas essas coisas são só coisas que eu faço, não tem lá muita importância, faz quando dá. Mas depois que eu tive o refluxo porque não me deitei do lado certo da cama, que tem o travesseiro anti refluxo, eu repensei isso.

Ir para cama não é só deitar e dormir. É se preparar para uma boa noite de sono. É desligar as luzes, escovar os dentes, afofar os travesseiros. Mas, para que né? Se dá pra entregar todos os textos do UOL ainda hoje. Depois eu só deito e durmo, mal, até amanhã. Academia? Hoje eu falto, não tem problema. E meu suplementos alimentares vencem na prateleira e não fazem nenhum bem a mim mesma.

Quando moramos sozinhas temos muito mais decisões para tomar. Não tem alguém sugerindo o almoço ou o jantar, nem pendurando a roupa e nem fazendo nada para você. É normal você se perder. Mas o problema é cuidamos da gente como fomos cuidados. E eu, confesso, não tive lá muitos bons cuidados na infância.

Não estou falando de passar fome ou não ter escola. Mas meus pais tinham três filhos e muito trabalho. Não tinha Ifood, comida congelada ou computador para ajudar. Se quisesse comer,tinha que ir à feira,carregar tudo no lombo, cortar, picar, cozinhar tudo fresco. E três crianças pequenas deveria ser um inferno anunciado.

Como sou a mais velha, acabei tendo a função de ajudar. Primeiro eu via se as minhas irmãs tinham tomado banho, depois eu ia. Minha mãe não perguntava se eu tomei ou não banho, ela esperava que sim. Assim era com a alimentação, com escovar os dentes ou fazer a lição de casa. Era eu por mim mesma e sempre com a demanda implícita de cuidar daqueles que eram menos capazes do que eu.

Então, eu não consigo me disciplinar comigo mesma. Com os outros, beleza. Mas comigo. Sou uma excelente mãe, irmã, amiga. Mas estou sempre me policiando para não me largar de vez. Agora meu foco é esse.

Como me disse uma cliente numa consulta ontem “corpo, mente e espírito”. Como já trabalhei bastante meu espírito e minhas emoções, preciso focar nos outros dois. Trabalhar o corpo e a mente (primeiro a mente) para cuidar de mim mesma, estabelecer prioridades que sejam eu mesma e ser egoísta pela primeira vez na vida. Estabelecer uma rotina, escrita em um papel, e pelo menos meia hora antes de dormir, estar indo para a cama. Dormir do lado da almofada de refluxo, depois de escovar meus dentes e passar minha vitamina C no rosto. Quem sabe, ainda, ler mais um capítulo de um bom livro e ter muito, muito carinho por mim mesma.

Aqui nasce a minha própria mãe.

Muitas de nós, após a primeira recuperação, descobrem que teremos uma próxima recuperação.

A recuperação em determinada área acaba por mostrar, sempre, que a vida é incontrolável em outra área.

Meditações para mulheres que amam demais – Robin Norwood

Publicado por Andrea Pavlo

Analista junguiana, taróloga e mentora.

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