Este post faz parte do meu processo de aceitação, que ainda não terminei de contar. Então, é como um spoiler do que acontece quando passamos por todo um processo, longos anos de terapia, ajuda, cura interior pra aprender a nos amar. De verdade.
Hoje eu fui à praia. Sim,aquele lugar maravilhoso com água, sol e milho verde cozido numa água que é, no mínimo, suspeita. Mas tudo bem, lá fui eu. Mas foi diferente, completamente diferente. Pela primeira vez eu me senti realmente, de verdade, bem numa praia.
Não, eu não fiz dieta e nem intensifiquei meus treinos. Pelo contrário, precisei parar de dançar e de treinar a maioria das coisas por conta das minhas dores nos pés. Mas eu estava me sentindo ótima. Linda, leve e livre!
Se eu soubesse como é gostoso ir à praia, tinha ido mais vezes. Não me levem a mal, eu fui praticamente criada na praia, sempre passando todos as minhas férias por lá. Só o apartamento do Guarujá da minha família já tem quase 30 anos! Então sim, eu sempre estivesse perto da praia. Mas nunca me senti bem.

Ou eram maiôs enormes ou eram dietas severas. Começava a entrar em pânico em outubro, junto com as chamadas as revistas de Boa Forma, que prometia um prêmio para quem conseguisse mudar o corpo a tempo do verão. A dieta poderia ser qualquer uma, acompanhada de sessões estafantes de exercícios ou caminhadas de horas para “perder a gordura”. Mesmo assim, não me lembro de ter chegado realmente satisfeita na praia, feliz com meu corpo.
Eu era a mina do maiô. Se era biquíni, era sunquini (entreguei a idade – ou as hot pants de hoje que, acredite, não tinham o mesmo glamour que agora). Mesmo na minha pior dieta, aquela que segui à risca por meses, emagrecendo horrores, não me deixou segura. Fui para o Caribe pensando que precisaria malhar pra tirar a barriga que insistia, mesmo depois de pesar praticamente tudo o que eu comia. Só lá, na viagem, eu ganhei cinco quilos, de tão ansiosa que fiquei com tudo aquilo.
Mas hoje, hoje foi diferente. Cheguei e arranquei a roupa, real e oficial. Sem medo. Sentei e a barriga dobrou, como tem que ser com uma gorda, e isso não me fez puxar o primeiro pedaço de pano que tinha por perto pra cobrir. Deitei, linda na areia, sem ficar repuxando o abdomem para imitar as garotas que ficaram com barriga negativa deitada (a minha, ainda assim, fica bem positiva) . Levantei e fui até o mar de saída de praia porque realmente já estava frio e eu estava indo embora e não porque queria esconder nada.
Lembrei de uma coisa super machista e gordofóbica que eu ouvi uma vez. Quando eu era adolescente – e transar era uma coisa que costumava demorar para acontecer com um casal – os homens propunham uma ida à praia ou piscina pra “verificar o corpo” da mulher e ver se ela “servia” para namorar. Se servisse, eles continuariam respeitando ela até que ela quisesse sexo, senão eles já iriam logo pra cima para não perder tempo com a gorda. Lembrei como essas coisas construiram a imagem que eu tinha de mim mesma e como isso tudo é uma baboseira sem fim.
Ai ai, que delícia que é o sol batendo na nossa barriguinha! Que delícia que é sentar confortável na areia sem se preocupar se está aparecendo o pudim de celulites das nossas coxas. Sim, eu sou gorda. Gorda e feliz. Agora mais feliz do que nunca!