Tirando o estigma das doenças mentais

Cara Delivigne, uma famosa modelo, resolveu falar sobre isso. Demi Lovato, cantora pop internacional, também. Cada uma passou por isso de uma maneira diferente mas, no final, todas tiveram o que já é considerado o mal do século: a depressão.

A minha começou aos 21 anos. Mas foi difícil de diagnosticar porque foi uma depressão atípica. Eu não passava todo o tempo trancada no quarto, mas fazia coisas que não eram “normais” para uma menina dessa idade. Eu trabalhava muito, exageradamente, às vezes 18 horas por dia. Cheguei a reformar, eu e uma amiga, uma casa inteira sozinha (por reforma entenda pintar paredes e rearranjar móveis). Fumei um maço de cigarro, sentada numa escada (hoje eu sei que só isso poderia ter me matado). E comia. Muito.

Em um ano eu engordei 40 quilos. Comia compulsivamente, em vários episódios por dia. Cheguei a iniciar um processo de bulimia, comer e vomitar, coisa que fiz algumas vezes. Mesmo assim a compulsão, por tudo, era maior.

Eu chorava sim e tinha episódios de não querer sair da cama. Ou então ia para o meu estúdio de fotografia, na antiga casa dos meus avós (com a minha avó falecida e meu avô morando no interior) e passava a tarde chorando. Era extremamente cobrada pelos meus pais, estudava numa das melhores universidades do país mas só queria morrer.

Coisa que tentei, por três vezes. Hoje eu sei que parte disso foi a questão da obesidade, coisas com a qual eu convivi desde os 11 anos, mas sinceramente, o buraco era mais em baixo. Eu me sentia um lixo completo e achava que, se desaparecesse, não faria menor diferença.

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Apesar do sorriso, passei esse netal chorando na sacada da casa dos meus pais

Isso foi em 1997. Naqueles dias a depressão existia, mas não era falada. Eu ainda caprichei o processo com uma síndrome do pânico, deixando tudo muito pior. Quando eu finalmente aceitei um tratamento médico e fui parar na sala do psiquiatra, a depressão estava em grau 8 (de 0 a 10) com episódios suicidas.

Sim, eu estive no fundo do poço. Montei um apartamento e quatro quartos lá, mas saí. O que mais me ajudou foram os meus pais, os médicos e eu mesma. Aliás, sem eu mesma no processo nada teria acontecido. Mas o preconceito das pessoas com relação à isso foi enorme.

As pessoas acham que é frescura. Muitas vezes eu ouvi “vamos até o shopping passear” e quando eu negava ouvia um “você precisa se ajudar”. As pessoas se sentavam ao meu lado me dando palestras longas sobre coisas como a religião delas ou como elas passaram por coisas terríveis,”muito piores que a sua” e saíram supostamente ilesas. Fui levada à igrejas evangélicas, casas de umbanda e toda a sorte de “médiuns” que você possa imaginar. Eu mesma ia, de bom grado, achando que qualquer coisa, qualquer palavra poderia me ajudar a sair daquele inferno. Em vão. O que realmente começou a me içar para cima foram os medicamentos.

Não sou contra os medicamentos psiquiátricos, mas acho que eles precisam ser usados com parcimônia. Não são todas as depressões que são depressões clínicas, de fato. É normal sentir tristeza, até mesmo por um período longo. O luto, por um amor ou por um parente morto, é normal e precisamos aprender a lidar com eles. Mas quando fluoxetina é dada como bala, aí é preocupante.

Ainda hoje, as pessoas tem vergonha de falar de suas doenças psiquiátricas, como se tivessem mesmo algum domínio sobre elas. Ora, se você tem diabetes, precisa de metformina ou insulina, e não existe nenhuma “força de vontade” que vai te fazer não sofrer mais disso. Mesmo que use essa força de vontade para não comer mais doces, isso não cura nada, só te mantém vivo.

Se você conhece alguém com qualquer diagnóstico ofereça sim, seu ombro. Ofereça acompanhamento até um médico. Se ofereça para lavar a louça do jantar, mas só isso mesmo. É uma doença e a pessoa precisa de carinho e respeito. Existem muitas formas de cura, mas tudo também depende de um trabalho arduo de autoconhecimento e autoaceitação.

Não foi fácil. O meu durou anos. Mas hoje eu olho tudo isso e me vejo tão forte, como jamais poderia dizer que seria. Não é magia! É amor próprio e amor das pessoas ao redor.

 

Publicado por Andrea Pavlo

Analista junguiana, taróloga e mentora.

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