Cuidado com a gorda-vitimização

Li um texto outro dia de uma moça gorda, que sofreu vários ataques de haters na internet. E sim, sei que isso é um problemão, e que não vai acabar nunca. E sei que isso a machucou – porque já passei por isso dentro e fora da web –  e que é dificil lidar com questões que, a princípio, estão fora do nosso controle. E sim, eu sou ativista gorda, eu sou feminista e eu brigo pelos meus direitos de ter o corpo que eu tenho.

Sabemos que ser gorda não é só uma questão de querer. E nem de comer demais ou de menos. Claro que qualquer dieta radical baixa seu peso, mas elas são insalúbres e inúteis a longo prazo. Existem estatísticas que mostram que, se uma pessoa engordou “além da conta”, por qualquer fator, não vai ter um peso dito “normal” nunca mais. O corpo muda com o ganho de peso e ele passa a perseguir, para sempre, o peso máximo que você já teve. Além disso, existem milhões de fatores que envolvem o comer, o engordar, o emagrecer, desde fatores de marketing, culturais, sociais, emocionais – aí nem sem fala – e mais uma enorme gama de coisas que fazem com que sejamos gordos ou magros. E não, não é uma questão de “força de vontade” como pregam as musas fitness. Ah, e só mais um adendo, um único exemplo de “superação da gordura” não vale de nada frente a imensa gama de coisas e pessoas com sobrepeso.

Isso posto, vamos ao outro oposto. Tenho percebido que muitas pessoas estão sim usando o “ser gorda” como uma forma de se vitimizar. O texto que eu li da moça contava seus problemas sim, mas não dava a solução de nada. Era um relato do “quanto eu sofro” mas também do “o quanto eu não faço nada com isso”.

Se você escuta um hater e se magoa e vai reclamar isso nas redes, com certeza vai atrair mais um milhão deles. Haters são para odiar e não para pensar ou analisar nada. Eles odeiam. Ponto final. Tem problemas demais para não odiarem e não adianta levar tudo para o fígado e entrar numa espiral de autocomisseração porque é gorda e ninguém te entende.

Eu fiz isso. Por muitos anos. Coloquei a culpa na gordura por muitas coisas que eu não sabia ou não queria fazer. Eu tinha medo de relacionamentos, então eu dizia que era gorda e nunca iria atrair ninguém. Mas era uma grande mentira que eu contava pra mim mesma. Era uma forma de me manter na vítima e, sabemos, vítimas não precisam fazer nada.

Vítimas são bem vistas na sociedade. Vítimas vão parar no Fantástico e depois fazem meia dúzia de programas de TV. As “vítimas” inteligentes usam isso a seu favor – como no caso de Geisy Arruda – e o bulling com o vestido rosa – ou Adriane Galisteu sendo viuva de Ayrton Senna. Elas entraram na vítima só até o capítulo 2, onde entenderam que, ou davam a volta por cima, ou seriam esquecidas para sempre.

Gorda não arruma namorado? Os homens só querem gorda para transar? Na realidade, alguns homens só querem uma determinada mulher para transar e isso não tem só a ver com o peso. Eu atendo muitas mulheres magras e elas reclamam das mesmas coisas que as gordas. O que acontece é que anos de bulling e um amor próprio ainda indefinidos, fazem com que essas mulheres não reconheçam o que um homem quer dizer.

Nos aplicativos de paquera tem de um tudo. Desde tarados BBW – big, beautyfull woman um fetiche com mulheres gordas – ‘até aqueles que não querem saber se você é gorda ou magra. Passando por aqueles que escrevem, em letras garrafais, que não querem se relacionar com gordas. E sim, eles tem o direito de não querer caramba! Eu mesma conversei – quando solteira – com caras lindos de morrer que queriam só sexo porque já tinham namoradas de anos ou eram casados. E isso não tem a ver com o corpo, mas com a infidelidade do cidadão. E isso era um problema deles e acontecia com mulheres gordas como eu ou magras como outras.

dsc_0126pbMas vamos saber que não somos vítimas de nada, somos protagonistas da nossa história e não vamos chorar na cama cada vez que escutarmos um “gorda” pejorativo.

Então, precisamos sim da nossa bandeira. Precisamos expor nossos corpos e deixar que odiadores odeiem, mas não adianta fazer isso se, lá no fundo ,você não estiver preparada. Precisa ter a cabeça boa – e o corpo aceito – para fazer um tour pelo corpo e aturar o que vem depois, principalmente se você tem muios seguidores. E não interessa isso, na realidade, o que realmente vale são as pessoas que você ajuda, incluindo a você mesma. Se 100 odiaram e uma curtiu e mudou algo dentro dela, já vale. Eu, pessoalmente nem leio críticas negativas – quando percebo que são só perseguissão mesmo – até o final. Só deleto e bloqueio. Não reclamo, não escrevo textão dando ibope para o ser humano. Se nem Jesus agradou todo mundo, não sou eu que vou fazer isso não é mesmo?

Vamos “aceitar” que o ódio existe. Porque ele existe. Vamos entender que coisas ruins vão acontecer sendo magras ou gordas. Se você fosse magra sua vida não seria mais fácil, só seria diferente. Vamos brigar para estar na mídia, para nos mostrar como somos e para parar de ser chacota de gente que não consegue elaborar uma piada que não envolva gordos e terremotos. Mas vamos saber que não somos vítimas de nada, somos protagonistas da nossa história e não vamos chorar na cama cada vez que escutarmos um “gorda” pejorativo. Não sei você, mas isso só me dá mais gás para ir atrás do meus sonhos. Sugiro que faça o mesmo.

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Publicado por Andrea Pavlo

Psicoterapeuta, taróloga e numeróloga. Ajudo mulheres a se amarem e alcançarem uma vida de deusa.

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