Meu processo de cura da co-dependência (cura, pelo menos no sentido mais profundo porque ela não acaba nunca) durou cerca de oito meses. Por esse tempo eu simplesmente mergulhei no processo, profundamente. Não trabalhei direito, não sai com ninguém. Só quis realmente me focar em olhar para dentro de mim mesma. Li o livro “Co-dependencia nunca mais”, de Melody Beatties, e fazia todos os exercícios. Mas demorei, até um mês para conseguir terminar alguns. Eu sentia, chorava, lembrava. Fazia exercicios do tarô da Deusa. Tomava agulhadas na acupuntura. Me dediquei completamente a isso.
É mais fácil quando não estamos apaixonadas.
E eu me culpei muito. Eu dei muitas sorvetadas na testa pensando no que tinha feito no meu último apaixonamento (sim, porque não poderia nem chamar de relacionamento o que eu tive). Eu cometi tantos, mas tantos erros. Erros os mais básicos. Eu me abri completamente para ele. Ele conhecia mais a mim do que eu mesma. Eu mandava cartas de amor, chorava, perdoava. Eu aguentei ele arrumando uma “namorada” e depois a traindo comigo. Eu aceitei ele me falando sobre outras mulheres, me apontando dates do Tinder, publicando coisas para me ferir. Mesmo que ele nem soubesse disso. Ele não soube da parte do sofrimento. Não tão bem como eu.
Descobri técnicas de namoro, de atrair o cara de volta. Aprendi a usá-las e, no processo, me tornei absolutamente racional. Perdi um cara, de quem eu gostei, porque não insisti. Aprendi a me colocar e a não deixar que me fizessem de trouxa por outro que, no final, me chamou de “a mulher mais complicada com quem eu já sai”. E olha que ele estava dizendo o que a mãe dele achava de mim (quem é o complicado agora, né?). Enfim, nesse período de sair da co eu acabei indo para o outro extremo e radicalizando. Racionalizando tanto as emoções que, realmente, elas não me atingiam mais.
E me apaixonei de novo. E decidi que dessa vez seria diferente. E realmente, eu racionalizei cada etapa. Não dizia nada do qual pudesse me arrepender. Não fiquei no pé. Não sofri da doença da co-dependência. Até perceber que, no fundo, eu fui longe demais.
Como um pêndulo que é solto, eu fui parar no outro lado, no lado oposto. O lado da racionalização total. O lado em que erros não podem ser cometidos, não por mim. O lado em que o que eu sinto é uma incógnita para o outro, a tal ponto do outro pensar em desisitir. Ai, tentei me reequilibrar e me perdi de novo. Presa entre ser co-dependente ou ser o oposto disso. Sendo uma hora uma e outra hora outra. Praticamente sendo uma coquete, sem pereceber e nem querer.
E depois de uma crise de identidade, de raiva, de ódio, de palavras, de sugestões e conselhos demais dos outros, finalmente eu entendi isso. Percebi que ainda nao cheguei ao equilíbrio.
E pior que existe um capítulo no livro, o último, que trata dessa questão. Trata da parte em que você está bem, saiu de tudo isso, e está se relacionando novamente pela primeira vez. Eu nem lembrei até perceber o quanto eu ainda preciso do livro, dos ensinamentos e dos processo de mergulhar. Não por oito meses e nem com tanto a descobrir, mas por alguns dias.
Reencontrar o equilibrio é tão complicado quanto a cura.
Lendo teu texto, fiquei aqui imaginando se o equilíbrio, como no seu significado real, existe, será que quando nos cobramos demais esse “equilíbrio” não é exatamente quando nos perdemos?
Gostei demais da sua reflexão, clareou a minha mente, me fez pensar sobre mim mesmo!
Bjs 💛
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Sim, se perder já é a falta de equilíbrio atuando. É preciso manter tudo caminhando junto. É complicado, mas dá pra se organizar. Obrigada pelo seu comentário. Adoro comentário!
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