Nos tempos antigos, tipo quando eu era recém formada, passei por um longo período fazendo entrevistas de emprego. E numa dessa, lá pelas tantas, lembro de ter travado, completamente, quando o recrutador pediu que eu dissesse três defeitos e três qualidade minhas (espero que esse ser humano esteja com vergonha das coisas que fazia nos anos 2000). Eita perguntinha idiota e que nunca, jamais, iria medir o que a pessoa realmente pensa sobre si mesma. Mas eu, recém formada, desesperada por qualquer emprego que fosse, travei.
Quando contei isso para uma amiga ela disse “Por que você não falou perfeccionismo?”. Eu fiquei brava. Disse que, primeiro eu não era aquilo, e segundo isso não é uma qualidade. Ela retrucou dizendo que todo mundo achava isso uma qualidade e que uma empresa adoraria ter alguém perfeccionista no seu hall de trabalhadores.
Como eu não peguei o emprego, supus que ela realmente estava certa. E, anos depois, depois de duas décadas de terapia, vi que ela estava certa.
Não certa no sentido de ser uma qualidade, mas certa no sentido de eu ser perfeccionista e sim, todo mundo achar isso uma qualidade. Hoje, ninguém mais faz essa pergunta (ou pelo menos não deveria) mas as pessoas ainda acham isso qualidade.
Não, pelo amor de Deus. Conheço poucas coisas que seguram tanto os nossos potenciais como o perfeccionismo. Na realidade, querer ser perfeita é só uma maneira de dizer que você sim, está errada. Que nada do que faz é realmente legal e que, por favor, refaçam o meu trabalho de merda. Isso quando você consegue, de fato, entregar alguma coisa.
Conheço pessoas que não fazem as coisas por medo de que elas não estejam suficientemente boas. Até entender que eu sou uma dessa pessoas. Com pouco tempo e tarefas demais, sempre fico pensando que o que eu tenho que entregar não está bom o suficiente. Não tenho know how para apresentar isso ou qualquer coisa assim. E sim, perdi oportunidades demais com isso.
Na verdade, é mais um dos nossos mecanismos de defesa. Para não os expor à vida real, criamos padrões absurdos que nunca, jamais terão a menor condição de serem colocados em prática. Aí ficamos rodando, como na roda do rato do laboratório, até o dia em que o prazo acaba, o tralho termina, o mundo muda ou envelhecemos.
Se você identificar algo assim, comece a mudança hoje mesmo. Entregue uma coisa duas coisas “pela metade” (ou aquilo que você acha a metade). Deixa a louça na pia mais uma noite ou não combine os sapatos com as meias só pra se desafiar mesmo. Vai ser um exercício difícil, mas eu tenho certeza de que vai dar mais certo do que ficar preso no mundo perfeito para sempre.
Perfeccionismo não é qualidade!
