Primeiro queria deixar claro que este não é um estudo científico, é apenas uma observação empírica, um experimento que eu e alguns amigos resolvemos fazer numa quente noite de sábado. Eu instalei o aplicativo Tinder no meu celular, um aplicativo de paqueras, e o meu amigo instalou no dele. Estávamos no mesmo lugar, no mesmo horário e o raio e a idade que colocamos como “alvo” foram os mesmos. Mas a diferença do que encontramos foi assustadora.
Eu nunca tinha visto o Tinder, por motivos óbvios, do ponto de vista de um homem procurando uma mulher. E o que encontrei foi algo que me deixou bastante chateada e, porque não dizer, deprimida. O nível social, educacional e até mesmo de atributos físicos entre homens e mulheres é assustadoramente diferente. E não, não estou sendo machista e dizendo que é assim mesmo, mas colocando as coisas em perspectiva e como esse aplicativo mostra a cultura da co-dependência vigente e a cultura de desvalorizar a mulher como um todo.
A maioria dos homens (maioria, não unanimidade) eram bem apessoados. Eles pareciam ter a idade que realmente falavam em seus perfis e geralmente as roupas eram de boa qualidade. As fotos costumam ser de viagens, geralmente internacionais. Quando vemos a profissão e o grau de escolaridade, geralmente são formados em boas escolas, aqui e lá fora, e tem cargos importantes ou até mesmo são donos de negócios ou empreendedores. Levando em conta que eu estava numa região classe média alta da cidade, isso fazia todo o sentido.
Mas com a mulheres, a maioria não era assim. A maioria eram mulheres que aparentavam uma idade assustadoramente superior à colocada no perfil (supondo que todas colocaram suas idades reais). As fotos de viagens, quando apareciam, eram em praia do litoral paulista, no máximo uma piscina em algum sítio. Geralmente elas tem um ou mais filhos, e a maioria deixa isso claro no perfil. As roupas são de qualidade bastante inferior, o visual todo na realidade e as selfies geralmente são em casa mesmo, casas bastante simples, e fazendo poses estranhas como o famoso bico de pato. Quando estudadas, a maioria é em faculdades de procedência duvidosa, cursos mais “femininos” como fisioterapia ou enfermagem. Os textos delas são um capítulo a parte! A maioria pedindo pelo amor de Deus para não conversar se o assunto for só sexo e exigindo que passasse para a próxima foto. A maioria exigindo, mesmo sem um primeiro contato, compromisso sério ou pelo menos que essa fosse a intenção do homem. No fim da noite, eu não tinha ideia como aquelas duas pessoas, de realidade tão dispares, poderiam mesmo se relacionar.
Isso é muito triste. O que mais eu reparei aqui é a diferença de oportunidades que são dadas a homens e mulheres. Os homens foram estudar fora como? Ou com a ajuda da família, que costuma apoiar, inclusive financeiramente, iniciativas desse tipo em homens, ou com o dinheiro do próprio salário, que é superior aos das mulheres. Mesmo pessoas com o mesmo cargo, via-se a diferença. As crianças geralmente “sobram” para as mulheres, o que as faz mais cansadas e envelhecidas. A parte financeira também acaba pesando mais para elas, mesmo que o pai pague a pensão. A maioria não aguenta mais ouvir conversar sobre sexo, mesmo estando num aplicativo que, basicamente, se destina a isso.
O Tinder é como um recorte da realidade. E de como nós, as mulheres, ainda somos massacradas por padrões gritantes de “mulher maravilha”, dando conta de coisas que não teríamos condições nenhuma de arcar. O preço que pagamos é a tristeza, a solidão, essa amargura que aparece em forma de agressividade em tantos textos dessas moças, e uma carga de responsabilidade que elas não conseguem dividir com mais ninguém. Trabalho árduo, dupla ou tripla jornada de trabalho, crianças, filhos, reuniões da escola e ainda a esperança vã de encontrar um amor, um principie encantado, alguém que possa olhar por elas de alguma maneira. E, obviamente, uma autoestima devastada por inúmeras situações e tentativas de fazer felizes os homens que passaram pelas suas vidas.
Qual é a conclusão disso tudo? Que precisamos nos unir, sim. Que precisamos lutar para que nossas filhas ou sobrinhas não cheguem à idade adulta e terminem desse jeito mas, principalmente, parando de esperar por um príncipe que nos salve disso tudo. Olhando com carinho para nós mesmas. Olhando para cada uma das nossas necessidades, com amor e atenção, deixando de acreditar que somos obrigadas a cuidar de tudo e de todos a nosso redor e esquecer de nós mesmas o tempo todo. Fazendo escolhas que sejam realmente nossas e não impostas por padrões imbecilizantes.
Nem toda mulher precisa ser mãe. Nem toda mulher é magra ou gorda ou curve. Nem toda menina quer ser dona de casa ou se casar. Nem toda mulher precisa de uma profissão “feminina”. Nós podemos tudo o que queremos desde que sejamos realmente honestas com a gente mesma e faça as nossas escolhas de acordo com aquilo que mais acreditamos. Limpando anos e mais anos de crenças negativas das nossas cabeças.
O que eu poderia sugerir a essas moças é que saiam do aplicativo e deem uma boa olhada nas próprias vidas. Sem medo de encontrar coisas que não gostariam de ver lá. Olhando profundamente e com muito amor em seus próprios olhos e proporcionando, a si mesmas, o amor e o companheirismo que procuram em um aplicativo de paquera. Ali tem sexo, o resto é com você. E enquanto não sairmos desse lugar de cuidadoras dos outros, mas não de nós mesmas, jamais poderemos querer nos equiparar com os homens, não tem como. Não tem tempo e nem verba para isso tudo, gente, é meio claro isso. Se a sua preocupação é o seu trabalho, invista nisso. Repense o que é ter uma família para você, repense o papel dos seus ex-maridos na sua vida, repense a sua vida de forma geral para poder realmente ser a princesa que cada uma merece. E ame-se, acima de tudo e de todos. Isso não é egoísmo. Isso é sim, a revolução do feminino.
Nossa que texto incrivel! Foi bem o que conversamos.
Parabéns!!!
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Obrigada querida! Beijinhos
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